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Pontal - por PV Dias

Pontal - 2020

Eu sempre gostei dos esquisitos. Como se sabe, "exquisitus", em latim, tem o sentido de "requintado". Quando criança, lembro que interessante mesmo aos meus olhos era o inusitado, o que fazia a diferença. Adorava as pessoas que usavam palavras que eu não conhecia, que se vestiam com personalidade, que quebravam as regras que os adultos me impunham etc. Desde que vi a Fernanda Takai pela primeira vez, não resisto ao encanto de sua originalidade. Ela é esquisita para além do que pode a língua portuguesa.


Há quem a compare com Nara Leão ou Rita Lee, mas a Fernanda é, com toda a sua doçura, radicalmente ela própria. No jeito de ser, de se mostrar e, sobretudo, no jeito de cantar. Por causa dela, descobri que, apesar de grave, havia doçura em minha voz. E que eu poderia, com a mesma suavidade cool de outros ídolos esquisitões, como João Gilberto e Chet Baker, cantar até rock and roll, se quisesse.

A memória da minha adolescência é inseparável das canções do Pato Fu. No primeiro violão que eu ganhei, aprendi a tocar "Canção pra você viver mais" e "Antes que seja tarde", meus hits nas rodas de amigos no recreio ou na saída da escola. Já tirei a prova dos nove com Fernanda e John: contamos nos dedos e, de fato, eu fui a todos os shows do Pato Fu em Belém. O mais marcante deles foi em um grande festival ao ar livre. Eu tinha 16 anos, mas pedi aos meus pais que assinassem uma autorização. Como era libertadora a sensação de ir sozinho ao show da minha banda esquisita preferida. É claro que choveu muito, se não chovesse não seria Belém, mas eu pulava e dançava na lama mesmo assim, como se fosse um Gene Kelly.

Quando compus a melodia que agora se chama "Pontal", pareceu muito claro que era o resultado de todas as tardes ouvindo Pato Fu depois da escola. Como eu já tinha cantado com a Fernanda duas vezes, uma em São Paulo, outra em Belém, pensei: "será que ela não toparia escrever uma letra?" Ela topou. "E se o John participasse da produção?" Uau, ele topou. Fiquei feliz e ansioso! Alguns dias antes de embarcar para a Europa, para a pequena turnê do meu EP "Coragem de Poeta", comprei os bilhetes e combinei com eles que voltaria de lá direto para Belo Horizonte. Cheguei em Minas de madrugada, três voos depois, constipado e com o chip do celular brasileiro perdido. Lembro que, antes de embarcar em Guarulhos para Confins, corri atrás da internet do aeroporto para avisar a Fernanda que, enfim, estava no Brasil e a caminho de Minas, mas que chegaria muito tarde. Ela foi tipo mãezona: "Boa viagem e juízo. Vá direto para o hotel, durma bastante de manhã e almoce algo leve. A gente se vê às 14 horas." Obedeci, é claro.

(Corta para alguns dias antes.) Depois que o John topou participar da produção da música, o combinado foi que eu pré-produziria a faixa com o Mateus Estrela (STRR). Por isso, em Belém, antes de viajar, corri ao estúdio para deixar gravados a voz guia e o teclado. Lembro que estava no Tiergarten, em Berlim, quando o Mateus e eu decidimos, por WhatsApp, depois de mensagens trocadas em diferentes cidades, que tínhamos algo legal para encaminhar ao John. Encaminhei o arquivo dali mesmo, no parque, com mãos geladas e coração quente.

(Pronto, posso voltar a Belo Horizonte.) Depois de fazer tudo como a Fernanda mandou, cheguei à casa deles às 14 horas. O arranjo de "Pontal" já estava pronto. Antes de mostrar o resultado, John fez uma explanação consistente sobre suas ideias. Quando ele apertou o play, foi emocionante ouvir aquela guitarra, que tocou tanto em meus ouvidos outrora, a serviço de uma canção minha hoje — e, ainda por cima, segundo o ilustre guitarrista mineiro, com "uma pegada do Pará".

Foi naquela tarde mesmo que Fernanda gravou sua voz. De noite, jantamos todos juntos. Aproveitei que um vinhozinho é bom para "curar" a timidez e perguntei várias curiosidades sobre o Pato Fu, tornando a ser aquele garoto que, na verdade, nunca deixei de ser. Eu continuo o mesmo fã, mas agora com a diferença de que "Pontal" existe e nos tornamos parceiros. Tempo amigo, você é legal comigo!

Arthur Nogueira

Fevereiro/2020

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Ficha técnica:

Melodia: Arthur Nogueira.

Letra: Fernanda Takai.

Produzido por John Ulhoa e STRR.

Vozes: Arthur Nogueira e Fernanda Takai.

Guitarras, teclados e protools: John Ulhoa.

Bateria e programações: STRR.

Piano elétrico: Jacinto Kahwage.

Baixo: Leonardo Chaves.


Gravado nos estúdios 128 Japs (Belo Horizonte), STRR Home Studio (Belém) e Midas Amazon Studio (Belém). 
Mixado no estúdio 128 Japs por John Ulhoa.
Masterizado no Nico’s Studio (Curitiba) por Vinicius Braganholo.

Capa de Pv Dias.

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